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Repressão do governo venezuelano a ativistas e opositores levam representante da Transparência Internacional ao exílio

Encerramento das atividades da Transparência Venezuela no país acontece após medidas que criminalizam organizações civis independentes. Representante continuará atuando no exílio.
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A Transparência Venezuela, capítulo da Transparência Internacional no país, anunciou ontem (13) o encerramento de suas atividades no país. As operações da organização já haviam sido finalizadas em dezembro de 2024 e, a partir de agora, continuarão do exílio.

O anúncio foi feito pela diretora executiva da Transparência Venezuela, Mercedes de Freitas, em Berlim, ao lado de Maíra Martini, diretora executiva da Transparência Internacional, e Luciana Torchiaro, conselheira regional da organização para América Latina e Caribe.

“Os valores e projetos da Transparência Venezuela, dedicados ao bom governo, à prestação de contas, ao acesso à informação e à luta contra a corrupção, são incompatíveis com as novas leis venezuelanas que criminalizam o trabalho das organizações civis independentes. Por isso, decidimos formalizar o fim das relações com todos os aliados, parceiros e funcionários na Venezuela e continuar atuando do exterior”, explicou Freitas.

Além disso, o presidente da Transparência Internacional, François Valérian, publicou em suas redes sociais uma mensagem de apoio à Transparência Venezuela no exílio, reiterando o compromisso da organização com o capítulo venezuelano e com toda a população do país.

Freitas ressaltou que a Transparência Internacional continuará acompanhando atentamente a situação dentro e fora da Venezuela, uma vez que os casos de corrupção “transcenderam fronteiras e já são investigados em 30 países, que apuram responsabilidades na grande rede de corrupção transnacional e no desvio de dinheiro público venezuelano”.

“Meu compromisso permanece inabalável. Continuamos porque os responsáveis por essa corrupção sistêmica não podem ficar impunes. Seguimos porque precisamos construir uma Venezuela íntegra. Agora somos a Transparência Venezuela no Exílio”, declarou a ativista.

Ameaça constante e criminalização

Freitas denunciou a repressão intensificada na Venezuela “desde a fraude eleitoral de 28 de julho”, que resultou na prisão de ativistas de direitos humanos, como Rocío San Miguel e Nélida Sánchez, e de políticos como Jesús Armas e William Dávila, além de inúmeros outros que permanecem incomunicáveis, desaparecidos ou no exílio.

Vivemos sob uma ameaça constante de uma cúpula que instrumentaliza o sistema de justiça para proteger o abuso, a corrupção e as economias ilícitas, mantendo-se no poder e garantindo sua impunidade.

Mercedes de Freitas, diretora executiva da Transparência Venezuela

Ela também destacou o impacto devastador do enriquecimento ilícito de um pequeno grupo privilegiado: “Uma vida de luxo para os cleptocratas, suas famílias e amigos que controlam os recursos públicos; e miséria para o resto da população venezuelana. Não há escrúpulos para encarcerar, extorquir, pressionar e perseguir aqueles que denunciam a natureza criminosa desse sistema”, disse.

“Seguimos com a Transparência Venezuela no exílio porque queremos defender nossos recursos. Os cidadãos precisam de uma voz que denuncie a grande corrupção, pois o mundo precisa conhecer as redes criminosas que operam na Venezuela. Essa é nossa obrigação”, acrescentou.

A cleptocracia continua saqueando

De acordo com Freitas, há razões mais do que suficientes para continuar a luta. Ela apontou que, segundo estimativas da Transparência Venezuela, até 2025, o montante desviado do país supera US$ 72,34 bilhões — um valor conservador, já que cobre apenas 60% dos 173 casos investigados pelos sistemas de justiça de 30 países.

Esse montante representa sete vezes as reservas internacionais da Venezuela, que foram estimadas pelo Banco Central do país em US$ 10,195 bilhões no final de 2024.

Os números da Transparência Venezuela indicam que, até o final de 2024, mais de 3.000 empresas em pelo menos 73 países estavam envolvidas nesse gigantesco desvio de recursos. Além disso, a organização identificou 510 casos de corrupção com 977 pessoas investigadas, incluindo 446 funcionários públicos, 327 empresários e 33 banqueiros. Atualmente, 45 pessoas estão foragidas.

Mercedes de Freitas também ressaltou que na Venezuela não há informações oficiais sobre economias ilícitas, como o narcotráfico, a exploração ilegal de minerais, o tráfico de pessoas, o contrabando ou a extorsão.

Como exemplo, ela citou que estimativas da Transparência Venezuela de que pelo menos US$ 5,38 bilhões foram desviados em 2024 por redes envolvidas na extração ilegal de ouro.

Transparência Venezuela

Fundada em 2004, a Transparência Venezuela sempre teve um papel ativo na luta contra a corrupção no país, apesar das dificuldades enfrentadas. No último Índice de Percepção da Corrupção, publicado em fevereiro deste ano, o país obteve apenas 10 pontos em uma escala que vai de zero a 100, ficando atrás apenas do Sudão do Sul e da Somália.

“Continuamos no fundo do poço, como o terceiro país com a maior percepção de corrupção no mundo e o primeiro nas Américas”, afirmou Mercedes de Freitas.

Grupo de Trabalho

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