Pesquisa de opinião com especialistas de compliance das maiores empresas brasileiras mostra que, para 96% dos entrevistados, nos últimos dois anos, o crime organizado tem se tornado um problema crescente e impactado a integridade do ambiente de negócios brasileiro.
Nesse contexto, apenas 69% dizem acreditar que a due dilligence de integridade realizada por empresas brasileiras é suficiente para detectar e evitar vínculos com fornecedores, clientes ou parceiros ligados ao crime organizado, e apenas 57% afirmam que os programas de integridade das empresas com quais suas respectivas empresas interagem adotam controles específicos para mitigar os riscos associados ao crime organizado.
Acesse os dados da pesquisa aqui.
A pesquisa “Percepção de Integridade no Ambiente de Negócios”, lançada nesta segunda-feira (1º), foi encomendada pela Transparência Internacional – Brasil ao Datafolha, para investigar as percepções de diretores, chief compliance officers e especialistas da área de compliance das maiores empresas do Brasil de acordo com o Ranking do Valor Econômico 1000 sobre a integridade no mercado brasileiro.
Entre 2 de setembro e 12 de novembro, foram feitas 96 entrevistas online e por telefone. A margem de erro é de 10 pontos percentuais para mais ou para menos, em um nível de confiança de 95%.
O estudo também identificou que, em relação à pesquisa feita em 2024, subiu de 10% para 22% o percentual de especialistas em compliance que dizem acreditar que, nos últimos dois anos, aumentaram as ações de fiscalização sobre corrupção e lavagem de dinheiro — ou seja, para a grande maioria deles (76%), essas ações permaneceram estáveis ou diminuíram. E, para 78% dos ouvidos, o movimento de aumento ou diminuição das ações tem efeito direto sobre o nível de investimentos das empresas em compliance.
A maioria dos entrevistados (95%) acredita que as práticas identificadas amplamente como “Orçamento Secreto” aumentam os riscos de corrupção nos municípios brasileiros, além de concordar amplamente (91%) que as renegociações dos acordos de leniência celebrados na Operação Lava Jato prejudicam o ambiente de integridade no Brasil. Outro dado do levantamento é que apenas 34% dizem acreditar que micro e pequenas empresas, em geral, adotam práticas e padrões de integridade adequados para o seu perfil.
“Nos últimos meses, inúmeras operações policiais evidenciaram um alto grau de infiltração do crime organizado em vários setores da economia formal. Essa pesquisa evidencia que mesmo as maiores empresas brasileiras não estão preparadas para enfrentar os riscos de integridade que organizações criminosas representam no Brasil”, aponta Guilherme France, Gerente do Centro de Conhecimento Anticorrupção da Transparência Internacional – Brasil.
Os resultados da pesquisa serão apresentados durante o evento “Corrupção e Crime Organizado: Desafios para os Setores Público e Privado no Brasil”, realizado, nesta segunda-feira (1º), pela Transparência Internacional – Brasil e pelo Insper, com apoio da Konrad Adenauer Stiftung (KAS), da Embaixada dos Países Baixos e da Embaixada da Suécia no Brasil.
Uso da Inteligência Artificial
A pesquisa também questionou os especialistas em compliance sobre o uso da Inteligência Artificial (IA) no setor.
Questionados sobre se a empresa em que trabalham utiliza ferramentas e sistemas com componente de IA, sobretudo generativa, para apoiar as ações de compliance, 42% dos entrevistados afirmaram que utiliza dentro de regras de governança por meio de ferramentas homologadas ou previamente autorizadas, mas 13% disseram que a empresa utiliza de maneira não coordenada e sem níveis de governança definidos.
Para apenas 29% dos ouvidos, o uso atual da IA traz riscos éticos relevantes para a sua empresa. Do universo destes 29%, 93% disseram entender que os riscos éticos no uso da IA precisam ser mitigados, por meio da atuação da área de integridade, para uma boa governança no uso de IA.