Entre os dias 6 e 10 de maio, o Rio de Janeiro sediou o II Encontro da RedeGov (Rede pela Boa Governança e Desenvolvimento Sustentável na Lusofonia)  – Capacitação e Intercâmbios Lusofônicos, organizado pela Transparência Internacional – Brasil e Transparência Internacional Portugal, que reuniu especialistas, advogados, acadêmicos, jornalistas, ativistas e membros da organização de países lusófonos, ou seja, aqueles onde o português é adotado como idioma oficial, e de outros países interessados no tema. 

Participaram do encontro representantes de Angola, Portugal, Moçambique, Venezuela, Guiné-Equatorial, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Madagascar e Brasil.  

A RedeGov é uma iniciativa de mobilização cívica informal e independente, criada em 2017. Os membros da RedeGov compartilham uma visão de uma lusofonia bem governada, sustentável e livre de corrupção, onde governos e sociedade civil se unem em defesa dos direitos humanos, da liberdade de expressão e da cidadania ativa.  

A vice-presidente global da Transparência Internacional, Ketakandriana Rafitoson, em sua fala inicial para o encontro, destacou o quanto a corrupção compromete a democracia, enfatizando que isso se dá “porque ela é capaz de corromper a justiça, erodir a confiança pública e facilitar a consolidação de regimes autoritários”. Rafitoson sublinhou a necessidade de uma resposta inovadora e colaborativa de todos os capítulos (países onde a organização está presente) para combater esse problema.  

O evento teve mesas que discutiram a corrupção transnacional, o papel das organizações da sociedade civil, o panorama global da cleptocracia e como o jornalismo investigativo pode ajudar a combater a corrupção.  

Estiveram presentes Vladimir Aras, procurador federal e ex-secretário para a Cooperação Internacional do Ministério Público Federal no Brasil, e Drago Kos, ex-presidente do Grupo de Trabalho Antissuborno da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).  

Da parte da imprensa, os jornalistas Guilherme Amado, do Metrópoles; Allan de Abreu, da Revista Piauí; Micael Pereira, do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ); Natália Viana, da Agência Pública e Eduardo Goulart, editor do Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP) no Brasil, também participaram das discussões.   

Representando a sociedade civil, as organizações  Pacto pela Democracia, Fundação Getúlio Vargas, Whistleblowing International Network, EG Justice, Centro de Integridade Pública e Cifar fizeram parte da programação do evento ou enviaram participantes. Também estiveram presentes ativistas vindos de Angola.   

O diretor-executivo da Transparência Internacional – Brasil, Bruno Brandão, destacou que a RedeGov tem um enorme potencial para articular a defesa da democracia e o combate à corrupção entre os países lusófonos. Segundo Brandão, “o capital ilícito flui com mais facilidade entre países com laços culturais e econômicos e, com mais segurança, onde há pouca ou nenhuma capacidade de controle governamental e social. É exatamente o contexto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Portanto, a RedeGov tem como objetivo reunir e coordenar esforços para sanar essas deficiências de controles, com iniciativas de cooperação e capacitações de agentes públicos e privados, como promotores, advogados, ativistas e jornalistas investigativos.”   

O encontro, que foi financiado pelo National Endowment for Democracy (NED), também possibilitou espaços de intercâmbios culturais entre os presentes, que puderam compartilhar suas realidades locais, desafios e conquistas na agenda anticorrupção. Os participantes realizaram uma atividade externa, percorrendo o circuito Pequena África na região portuária do centro do Rio de Janeiro. Este local conecta referências culturais, históricas, arqueológicas, turísticas e geográficas do povo negro brasileiro e sua ligação com a ancestralidade africana.