Brasil concede asilo a ex-primeira dama condenada e compromete combate à impunidade na América Latina

Decisão do governo brasileiro favorece ex-primeira-dama do Peru condenada por receber, com seu marido, quase US$ 3 milhões da Odebrecht e dá sinais preocupantes de tolerância do país com práticas ilícitas que corroem as instituições democráticas e prejudicam o desenvolvimento dos países latino-americanos
Nota pública

Brasília, 17 de abril de 2025 – A Transparência Internacional – Brasil manifesta profunda preocupação com a decisão do governo brasileiro de conceder asilo diplomático à ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, condenada a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro. A sentença, proferida pela Justiça peruana, baseia-se em evidências robustas de que Heredia e seu marido, o ex-presidente Ollanta Humala, receberam quase US$ 3 milhões em contribuições ilícitas da construtora brasileira Odebrecht (agora Novonor) e do governo venezuelano para financiar suas campanhas eleitorais de 2006 e 2011.

A concessão de asilo, realizada sob a justificativa de proteção humanitária, levanta sérias dúvidas sobre o compromisso do Brasil com o combate à corrupção e à impunidade na região. Ao acolher uma pessoa condenada por crimes de corrupção, o Brasil envia um sinal preocupante de tolerância com práticas ilícitas que corroem as instituições democráticas e prejudicam o desenvolvimento dos países latino-americanos.

É ainda mais alarmante que essa concessão ocorra enquanto o próprio Brasil aprofunda uma tendência preocupante de desmonte de seus marcos legais e institucionais anticorrupção. As provas do acordo de leniência da Odebrecht — as mesmas que embasaram as condenações de Heredia e Humala no Peru — foram anuladas no Brasil com base em alegações infundadas e nunca comprovadas. Essas decisões, tomadas de forma monocrática pelo ex-ministro Ricardo Lewandowski e pelo ministro Dias Toffoli, geraram um efeito devastador: mais de uma centena de condenações anuladas, incluindo casos com confissões, com decisões confirmadas por múltiplas instâncias e com valores significativos já devolvidos aos cofres públicos.

Apesar da gravidade dos impactos, os recursos apresentados pelo Ministério Público de São Paulo, pela Procuradoria-Geral da República e pela Associação Nacional dos Procuradores da República estão parados há 20 meses, sem qualquer deliberação por parte do Supremo Tribunal Federal.

Ao contrário do Brasil, a Justiça peruana não se deixou levar pela retórica de “quebra de cadeia de custódia” dos HDs da Odebrecht. Simplesmente buscou confirmar a autenticidade do material junto à Suíça, país que havia capturado os servidores originais da empresa e fornecido as provas tanto ao Peru quanto ao Brasil. Se houvesse vontade institucional, o Brasil poderia ter feito o mesmo — mas preferiu enterrar esse robusto conjunto probatório. É gravíssimo que o país esteja se transformando em um cemitério de provas do maior esquema de suborno transnacional da história.

É imperativo que o Brasil reavalie sua conduta, tanto no plano doméstico quanto no internacional. A integridade do sistema de justiça e a credibilidade da diplomacia brasileira não podem ser comprometidas pela proteção de agentes corruptos. A luta contra a corrupção exige respeito aos marcos legais, cooperação entre nações e responsabilidade perante a sociedade.

A Transparência Internacional – Brasil continuará vigilante na defesa da integridade pública e do Estado de Direito em todo o continente.

Aviso importante

Utilizamos cookies para melhorar sua experiência ao utilizar o nosso site.

Ao continuar, registraremos algumas informações sobre sua navegação. Todos os dados serão anonimizadas e apenas o que você decidir compartilhar conosco será registrado (como o seu endereço de e-mail, caso queira assinar nossa newsletter, ou suas informações bancárias se você fizer uma doação).

Saiba mais sobre como cuidamos das suas informações em nosso aviso de privacidade.

Grupo de Trabalho

Brasil concede asilo a ex-primeira dama condenada e compromete combate à impunidade na América Latina

Decisão do governo brasileiro favorece ex-primeira-dama do Peru condenada por receber, com seu marido, quase US$ 3 milhões da Odebrecht e dá sinais preocupantes de tolerância do país com práticas ilícitas que corroem as instituições democráticas e prejudicam o desenvolvimento dos países latino-americanos
LÍDER

Aviso de cookies

Este site utiliza cookies. Ao continuar, você compartilhará informações sobre sua navegação. Aviso de privacidade.