A luta contra a corrupção não acontece sem a presença de mulheres. Sejam ativistas, políticas, denunciantes ou educadoras, elas têm papel fundamental na construção de uma sociedade mais justa.
E são elas as que sofrem desproporcionalmente mais com a corrupção, que aprofunda a desigualdade de gênero, impede o empoderamento feminino e viola direitos. Não faltam exemplos de como isso acontece: extorsão sexual, ataques misóginos contra jornalistas e tentativas de enfraquecer a participação de mulheres na política são apenas alguns.
Do interior do Piauí ao litoral da Bahia, trazemos nesta série as histórias de seis mulheres que representam o que é a luta contra a corrupção: uma luta por direitos. Elas estão na linha de frente dessa batalha, trabalhando todos os dias em defesa da transparência, da integridade e da participação da sociedade nas decisões de interesse público.
Maria do Socorro Mendonça
Maria do Socorro Mendonça é baiana, nascida em Olivença, distrito de Ilhéus, Bahia. Envolveu-se no ativismo em 2008, quando soube da construção de um porto na região. “Busquei documentos e um deles foi o Plano Diretor da cidade, pois eu sabia que existia, mas eu não tinha acesso. Foi desafiador obtê-lo e, quando consegui, quem me entregou pediu para que eu não divulgasse”, conta com orgulho.
Felizmente, Socorro não acatou o pedido e prezou pela transparência, divulgando o Plano Diretor e outros documentos públicos pelos quatro cantos da cidade. Para ela, a população ainda carece de informações, inclusive sobre cidadania. “As pessoas são ignorantes, elas não sabem os direitos e deveres. Elas entendem, assim como eu entendia, que têm que votar, pagar IPTU e pronto, já cumpriram com as obrigações. Mas descobri que é muito mais do que isso, que a gente pode participar”.
Ela representa muito bem a mulher nordestina forte. Hoje, aos 63 anos, soma inúmeras mudanças que promoveu em Ilhéus, trazendo transparência e impedindo retrocessos na cidade. Talvez esse seja o real motivo de a chamarem gentilmente de Sol, pois seu trabalho tem inspirado e fortalecido outras pessoas e cidades no combate à corrupção.
Ao lutar por direitos, estamos despertando e abrindo caminhos que poderão ser concluídos por outras mulheres.
Maria do Socorro Mendonça
Socorro aproveitou as habilidades que havia adquirido no setor privado e se tornou uma liderança em seu município. E foi assim que fundou o Instituto Nossa Ilhéus (INI). Para a fundadora, há inúmeros exemplos de mulheres na história que lutaram por direitos. E, segundo ela, por mais que algumas enxerguem muitos obstáculos como insuperáveis, eles não o são. “Ao lutar por direitos, estaremos despertando e abrindo caminhos que poderão ser concluídos por outras”.
As mulheres devem se fazer presentes nos espaços cívicos, mesmo quando dificuldades são impostas. E a orientação de Socorro para isso é não desistir. “Que cada uma de nós se permita ser acompanhada pelos quatro ‘entes’: insistente, resistente, persistente e resiliente”.
De acordo com Socorro, a mulher tem uma característica diferenciada no combate à corrupção. “Queremos preservar o nosso território e lutamos como se estivéssemos protegendo um filho, e é isso que sinto em relação a Ilhéus. Tenho uma tendência natural para defender o meu local, e isso é todo o território litoral Sul da Bahia, pois não adianta ter um município legal se o entorno não está”.
Apesar do reconhecimento que o Instituto Nossa Ilhéus tem hoje e do nome de Socorro Mendonça ser uma referência na luta anticorrupção, Sol ainda enfrenta muitos desafios, mas sente orgulho de sua jornada. “Me sinto honrada pelo fato de não conseguirem me desmobilizar. Eu já aprendi a receber todas as tentativas de desqualificação e eu não desisto da luta. Esta é minha missão!”.