Influência indevida em políticas e decisões climáticas
Ao distorcer a elaboração e a implementação de políticas climáticas e ambientais, a corrupção cria obstáculos aos esforços para se implementar normas ambientais, reduzir as emissões de gases do efeito estufa e promover iniciativas voltada à transição energética.
Por décadas, lobistas de indústrias poderosas – especialmente empresas de combustíveis fósseis e, no Brasil, de representantes do agronegócio – têm influenciado das decisões públicas de forma indevida, no intuito de minar os esforços para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
Essa captura de políticas públicas, somada ao fato de que as pessoas que tomam as decisões que afetam esse campo possuem conflitos de interesse e vivem alternando cargos entre os setores público e privado, cria um grande obstáculo para uma adequada governança climática no mundo todo.
A influência indevida nas políticas climáticas ocorre tanto em países altamente corruptos quanto nos altamente íntegros. Contudo, é nos países ricos e desenvolvidos que essa interferência mais prejudica o progresso global. Esses países são os maiores responsáveis por liderar os esforços para atingir metas climáticas ambiciosas, reduzir as emissões em escala e desenvolver a resiliência climática no mundo todo. Quando a influência indevida distorce as políticas nesses países, as ações climáticas mais críticas são postergadas, a cooperação internacional perde força e a luta global contra a crise climática sofre entraves.
Precisamos urgentemente erradicar a corrupção antes que ela impeça completamente as ações concretas contra as mudanças climáticas. Os governos e as organizações multilaterais precisam integrar medidas anticorrupção aos esforços climáticos para proteger os recursos alocados, restaurar a confiança do público e maximizar os impactos das ações implementadas. Atualmente, grupos que utilizam práticas de corrupção não só definem como também ditam as políticas, e desmancham os sistemas de freios e contrapesos – tentando intimidar jornalistas, ativistas e todos que lutam por igualdade e sustentabilidade. A verdadeira resiliência climática requer o enfrentamento dessas ameaças de forma direta e decisiva.
Corrupção e preparo para se adaptar às mudanças climáticas
Países com níveis mais baixos de corrupção geralmente demonstram um maior preparo para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas. No entanto, isso não é o suficiente – muitos países ainda não adotaram as medidas mais necessárias para lidar com a crise, em parte por causa da influência indevida exercida por grupos políticos e econômicos.
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A ÁFRICA DO SUL (41) vem num viés preocupante no Índice de Percepção da Corrupção (IPC), tendo perdido três pontos desde 2019. Em 2025, o país receberá a Cúpula do G20, que trará uma oportunidade para reivindicar maiores compromissos com as finanças climáticas junto aos países do grupo. A África do Sul precisa fortalecer seus mecanismos de controle para garantir que a corrupção doméstica não interfira com processos internacionais tão importantes, como já aconteceu em outras cúpulas.
NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (65), uma grande empresa de energia orquestrou um esquema de suborno de US$ 60 milhões para influenciar indevidamente uma política pública em seu favor e retardar a transição para energias renováveis. Os promotores de justiça afirmam que a companhia pagava quantias a um político – que alega ser inocente – e seus parceiros para que aprovassem um pacote bilionário de resgate financeiro de duas usinas nucleares. Segundo as investigões, esse esquema ajudou a empresa a competir com fontes mais novas e limpas de energia, ganhando uma vantagem competitiva.